Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo, nasceu
no dia 24 de junho de 1878 na cidade do Crato — CE. Logo após seu nascimento
mudou-se para Quixadá, no mesmo estado. Aos cinco anos começou a trabalhar, pois seu pai
adoeceu e não conseguia sustentar a família. Tomou conta dos pais sozinho. Quinze dias
depois que seu pai morreu (25 de março de 1896), quando tinha 18 anos e trabalhava como
maquinista na Estrada de Ferro de Baturité, sua visão se foi depois de uma forte dor nos
olhos. Pobre, cego e com poucos a quem recorrer, teve um sonho em verso certa vez,
ocasião em que descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma viola a qual
aprendeu a tocar. Mais tarde começou a tocar rabeca. Algum tempo depois, quando tudo
parecia estar voltando à estabilidade, sua mãe morre. Sozinho começou a andar pelo
sertão cantando e recebendo por isso. Percorreu todo o Ceará, partes do Piauí e
Pernambuco. Com o tempo sua fama foi aumentando. Em 1914 se deu a famosa peleja com Zé
Pretinho (maior cantador do Piauí). Depois disso voltou para Quixadá mas, com a seca de
1915, resolveu tentar a vida no Pará. Voltou para Quixadá por volta de 1920 e só saiu
dali em 1923, quando resolveu conhecer o Padre Cícero. Rumou para Juazeiro onde o
próprio Padre Cícero veio receber o trovador que já tinha fama. Algum tempo depois foi
a vez de cantar para Lampião, que satisfez seu pedido — feito em versos — de
ter um revólver do cangaceiro.
Tentando mudar o estilo de vida de
cantador, em 1931, comprou um gramofone e alguns discos que usava para divertir o povo do
sertão apresentando aquilo que ainda era novidade mesmo na capital. Conseguiu o que
queria, mas o povo ainda o queria escutar. Logo depois, em 1933, teve a idéia de
apresentar vídeos. Que também deu certo, mas não o realizava tanto. Resolveu se
estabelecer em Fortaleza em 1942, onde veio a abrir uma bodega na Rua da Bomba, No. 2.
Infelizmente o seu traquejo de trovador não servia para o comércio e depois de algum
tempo fechou a bodega com um prejuízo considerável.
Desde 1945, então com 67 anos, Cego
Aderaldo parou de aceitar desafios. Mas também, já tinha rodado o sertão inúmeras
vezes, conseguira ser reconhecido em todo lugar, cantara pra muitas pessoas, inclusive
muitas importantes, tivera pelejas com os maiores cantadores. E, na medida em que a
serenidade, que só o tempo trás ao homem, começou a dificultar as disputas de peleja,
ele resolveu passar a cantar apenas para entreter a alma. Cego Aderaldo nunca se casou e
diz nunca ter tido vontade, mas costumava ter uma vida de chefe de família pois criou 24
meninos.
Texto extraído do livro "Eu sou o Cego Aderaldo", prefácio de Rachel de Queiroz, Maltese Editora — São Paulo, 1994.
Faleceu em Fortaleza no dia 29 de junho de 1967.
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